Marcos Pedroso traça paralelo da cenografia contemporânea

No dia 08 de maio, na Escola São Paulo, o cenógrafo e figurinista, Marcos Pedroso vai dar uma palestra sobre suas experiências com a cenografia contemporânea. Para ele, os 20 últimos anos foram de tantas mudanças em todas as áreas que é difícil fazer um resumão em um dia só. Mas, a ideia é comentar sobre a” incorporação  da arquitetura, dos lugares urbanos, do cotidiano e das diferentes midias tecnológicas usadas para reinvenção da relação publico-encenação.”

Pedroso tem uma vasta experiência em teatro e em cinema. Na telona,  estreiou com Bicho de 7 cabeças (2000), de Laís Bodanzky e  fez também com ela Chega de saudade (2008).  No seu curriculum, destaca-se ainda Madame Satã (2002) e O céu de Suely (2006), de Karim Aïnouz, Cinema, aspirinas e urubus (2005), Casa de Alice (2007), de Chico Teixeira, e Quanto dura o amor? (2009), de Roberto Moreira, entre outros. Na TV, fez a minissérie Carandiru – Outras histórias (2005), dirigida por Hector Babenco, Walter Carvalho e Roberto Gervitz. E no palco, sua história se mistura com a do Teatro  da Vertigem.

Nesta vida agitada, Marcos Pedroso teve tempo de responder algumas perguntas para o Movimento HotSpot sobre seu processo de criação, formação e o trabalho do cenógrafo. Confira;

MHS: Como nasce a cenografia para uma peça de teatro?

Pedroso: Em geral, quando leio um texto dramatúrgico já desperta uma sensação ou impressão visual e espacial. Mas esse é um primeiro momento. Parto para um estudo mais apurado da obra, das intenções e conceitos da direção, incorporo os processos de pesquisa dos atores e as próprias descobertas durante o processo de ensaios. Trabalho  em  diferentes tipos de processos de elaboração teatral, mas o Teatro da Vertigem foi meu grupo por mais tempo e ali  sempre esteve em questão o trabalho colaborativo e processual na criação.

MHS: Qual a diferença entre montar um palco e um set de filmagem?

Pedroso: Sempre estaremos criando uma representação visual de desejos, ideiais, conceitos e emoções e isso não é geralmente tão simples. O teatro, seja num palco italiano, “site specific” ou intervenção urbana, lida com a presença e repetição, da atuação e do público e isto cria uma série de possiblidades, mas particularidades também. Ele propõe acordos que podem ser convencionados entre essas partes, onde uma cadeira pode ser uma montanha. O cinema tem essa ligação atávica com a verossimelhança e isso demanda outro tipo de atenção da arte, da cenografia, figurino e tudo mais. Acho que as diferenças começam aí.

MHS: Quais sao as principais caracteristas da cenografia contemporânea?

Pedroso: Os últimos 20 anos não são simples de catalogar em qualquer área criativa. Mas no teatro, ópera, dança, dá para entrever uma maior liberdade no uso dos diferentes espaços para representação. A incorporação  da arquitetura, dos lugares urbanos, do cotidiano e das diferentes midias tecnológicas usadas para reinvenção da relação publico-encenação. Vejo a aproximação da cenografia aos aspectos mais conceituais e reflexivos da obra. Também observo  novas questões colocadas ao papel do cenógrafo como a arquitetura teatral e o conceito de direção de arte  aplicado ao teatro.

 MHS: O fato de tambem de fazer o figurino em alguns trabalhos ajuda a compor por completo o cenário da história?

Pedroso: Sem qualquer dúvida. Ter nas mãos os diversos aspectos da criação visual do espetáculo leva a uma maior unidade estética.  Poder ajudar na concepção de cada personagem, com o figurino, e do espaço que esse personagem existe, coloca você  ainda mais  em parceria com os atores no processo criativo.  Claro que essa posição também gera mais responsabilidades dentro do todo da obra e é nessa hora que nasce a questão da direção de arte.

MHS: É possível ensinar cenografia? Como se aprende? Quem se interessa por essa area deve estudar o quê?

Pedroso: Minha formação sempre foi em artes plásticas. Estudei desenho e pintura desde bem criança. Fiz uma faculdade de Artes Plásticas, ECA-USP.  Me voltei para o teatro e o cinema, porque gosto de trabalhar em conjunto. Gosto da idéia de muitas pessoas juntas construirem uma reflexão estética, uma obra. Temos hoje boas escolas e bons professores especializados na formação de cenógrafos e diretores de Arte. Creio que uma boa formação geral : arquitetura, artes plásticas, design, artes gráficas, história da arte, história do teatro, mídias contemporâneas,  é muito importante para quem deseja seguir por aí, mas aprender as especificidades técnicas também ajuda você a não ter que descobrir a roda.

 MHS: O que faz um cenógrafo destacar em seu trabalho?

Pedroso: Dominar conceitual e tecnicamente o ofício é essencial. Acho que gostar de trabalhar em grupo e, como em todas as áreas, gostar do que faz ajuda muiito. Sorte também ajuda.

Cenógrafo Marcos Pedroso dá palestra na Escola São Paulo

 

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