Não a intolerância

Neste sábado, às 16h30, o público do Festival Movimento HotSpot, em Belém, vai poder assistir “ATÉ OXALÁ VAI À GUERRA? – Uma História de Racismo e Intolerância Religiosa“.

O documentário usa como pano de fundo a demolição violenta feita pela Prefeitura de Salvador do Terreiro Oyá Onipo Neto conduzido por Mãe Rosa da Avenida Jorge Amado, para discutir a intolerância religiosa que assola o País.

Esta também é a missão do Instituto Nangetu que tem como objetivo preservar a tradição afro-religiosa na capital paraense. Entre as atividades, há um cineclube que exibe filmes ligados ao tema.

Isabela do Lago, coordenadora do Cineclube Nangetu, em entrevista ao MHS, fala sobre o trabalho do instituto e do filme que será exibido. Ela participará, também, da roda de conversa “A Mulher nas Artes Visuais da Amazônia”  com integrantes do Coletivo Mulheres Líquidas, que vai rolar sábado, às 15h, na Estação das Docas|Galpão Boulevard das Feiras – Espaço filme e vídeo.

 MHS: Como foi feito o documentário que retrata a intolerância religiosa na Bahia?

Isabela do Lago: Este documentário, feito em Salvador pelo realizador argentino Carlos Pronzato e produzido pelo CEN- Coletivo de Entidades Negras em 2008 é um belo exemplo de ações colaborativas entre artistas e a mobilização solidária da sociedade civil organizada, que na ocasião se uniram para apoiar mãe Rosa quando a prefeitura de Salvador violentamente demoliu o Terreiro Oyá Onipo Neta, o filme acompanha o processo de luta e combate a essas ações intolerantes.

MHS: O Brasil é dito como um pais não racista, mas sempre se vê casos gritantes de discriminação de raças e, recentemente, de preferências sexuais. Como podemos melhorar estas questões no Brasil?

Isabela do Lago: Pois é, estamos sempre aí, infelizmente a discriminação racial, a homofobia, as múltiplas formas de machismo cada vez mais violentas e uma história de 513 anos de crimes contra a humanidade e toda forma de violação de direitos que você possa imaginar. Não estamos sós neste mundo, a meu ver, nossa individualidade é coletiva e da nossa coletividade nasce a força que nos leva a prosseguir de bem com nossas diferenças. Acredito que sem solidariedade não vamos conseguir melhorar.

Exatamente agora, estamos vivendo um momento absolutamente novo no Brasil, um momento de guerra, onde as pessoas de todas as classes, e de todas as cores estão nas ruas e os donos do poder estão apavorados, e maior repressão é em cima das pessoas pretas e pobres, e isso é um país “não racista”?

Pra nós, afro-religiosos, que ainda hoje somos humilhados, maltratados, discriminados e demonizados nos resta abrir cada vez mais portas, como agora, por exemplo, adentrar em eventos como este, ter espaço pra dialogar com as pessoas e fazer com que as pessoas conheçam, compreendam, e possam refletir de maneira mais inteligente o conhecimento é o poderoso cajado, o maior escudo de proteção e certamente a melhor bomba pra detonar no meio dessa guerra, é o conhecimento a melhor pedra a ser atirada na vidraça de quem nos oprime, ter espaço pra conversar e dialogar é um caminho a se seguir.

MHS: O sistema de cotas é uma boa ferramenta pra diminuir essas diferenças?

Isabela do Lago: Sim, absolutamente! Ao menos pra início de conversa, digo pra início porque é uma reparação por séculos de crueldade..

MHS: Como é usar a arte e a cultura para denunciar esses tipos de discriminação?

Isabela do Lago: É ser tachada de louca, é trabalhar mais do que todo mundo, é nunca ter grana pra realizar a maioria dos projetos… mas também é sempre ter um sorrisão no rosto pra dividir com as pessoas que aparecem para colaborar.

Mas também, “usar arte/cultura para isso” é assim uma forma de pensar por via única, porque o processo é recíproco, dinâmico, solúvel e interminável.

MHS: Qual a importância de mostrar o filme durante o Festival MHS em Belém?

Isabela do Lago: O Instituto Nangetu já faz cineclube acerca de 7 ou 8 anos, já existe, inclusive uma rede de cineclubes em comunidades de terreiro no Pará encabeçada por Tata Kinambogi, e quantas pessoas conhecem o trabalho do cine Nangetu? Quantas pessoas frequentam lá?

Nossa maior luta é certamente contra a intolerância religiosa, contra o racismo. Se as religiões de matriz africana no Brasil são instrumentos de resistência, os cineclubes dentro dos terreiros são fortes instrumentos desta resistência, compartilhar com a comunidade conhecimento cinematógráfico é uma forma de distribuir o conhecimento de um mundo que nos é negado. Agora, este filme é um exemplo muito interessante dessa lógica solidária da arte que falei anteriormente, fala de uma questão de extrema violência do poder público em direção ao candomblé, aqui no Pará também temos situações bem complicadas, se depois de trocar essas ideias, alguém que tenha uma câmera queira chamar Oxalá pra guerra e fazer um novo documentário eu aceito, na mesma se quiser só nos visitar nossas sessões estão abertas a todos e todas, sempre.

 

Festival Movimento HotSpot

Sexta-feira, 05 de julho

15h |
Abertura da exposição Movimento HotSpot
Local: Estação das Docas |Galpão Boulevard das Feiras

16h30 |
Roda de conversa “A cena do Pará:  de onde surge o novo? Novas identidades, processos, ideias e misturas” com Nando Lima (Estudio Reator), Waldo Squash (Gang do Eletro), Vlad Cunha (Doc Brega S/A), DJ Jaloo.  Moderação: Graça Cabral.
Local: Estação das Docas | Cine Teatro Maria Sylvia Nunes.

18h30 |
Show  Projeto Charmoso
Local: Estação das Docas | Anfiteatro São Pedro Nolasco

18h30 |
Oficina de Stencil 
com Drika Chagas
Local: Estação das Docas | Galpão Boulevard das Feiras- Espaço filme e vídeo.

19h |
Roda de Conversa “Redes sociais e as
mobilizações sociais” 
com Caio Túlio Costa
Local: Estação das Docas | Cine Teatro Maria Sylvia Nunes.

19h |
Projeto Symbiosis – Videomapping em  árvores com Roberta Carvalho
Local: Estação das Docas |Área externa

20h |
Show Luê
Local: Estação das Docas | Anfiteatro São Pedro Nolasco.

Sábado, 06 de julho

09h |
Intervenção Grafite 
com o Drika Chagas
Local: Casarão anexo do Sesc Boulevard – Av. Boulevard Castilho França.

10h |
Intervenção de Teatro de Animação
com o Grupo Periféricos
Local: Ver-o-Peso.

14h|
Visita à exposição Movimento HotSpot
Local: Estação das Docas | Galpão Boulevard das Feiras

14h |
Roda de Conversa “Outras Formas de Financiamento
com Ricardo e Mauro Matos (Site Eu Patrocino), Renee Chalu (Festival Se Rasgum) e Caio Mota (Fora do Eixo).
Local: Estação das Docas | Cine Teatro Maria Sylvia Nunes.

15h |
Roda de Conversa “A Mulher nas Artes Visuais da Amazônia”  com integrantes do Coletivo Mulheres Líquidas.
Local: Estação das Docas |Galpão Boulevard das Feiras – Espaço filme e vídeo.

16h |
Intervenção Grafite 
com o Drika Chagas
Local: Casarão anexo do Sesc Boulevard – Av. Boulevard Castilho França.

16h30 |
Sessão Cine Nangetu – 
exibição de filme seguida de bate papo: “ATÉ OXALÁ VAI À GUERRA? – Uma História de Racismo e Intolerância Religiosa
Doc/40 min./2008/ Português / Direção: Carlos Pronzato e Stefano Barbi-Cinti.
Local: Estação das Docas | Cine Teatro Maria Sylvia Nunes.

18h30 |
Show Allan Carvalho – Melodia das Ruas
Local: Estação das Docas | Anfiteatro São Pedro Nolasco.

19h |
Show Banda Strobo
Local: Estação das Docas | Anfiteatro São Pedro Nolasco.

19h |
Projeto Symbiosis – videomapping em árvores com Roberta Carvalho
Local: Estação das Docas | Área externa

20h |
Show Gang do Eletro
Local: Estação das Docas | Anfiteatro São Pedro Nolasco

21h30 |

Discotecagem DJ Jaloo
Local: Estação das Docas | Anfiteatro São Pedro Nolasco

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