O varejo é um lugar rico em oportunidades

Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, acredita que ” cada vez mais a economia é menos matéria-prima e mais inteligência e criatividade”

Mesmo comandando uma das maiores operações de varejo do País, Flávio Rocha, dono da Riachuelo é pontual. Na hora da entrevista agendada, atendeu sem atraso ao telefone. Ele reservou uma hora  de sua agenda para falar ao blog do Movimento HotSpot, da qual, é um dos patrocinadores. Quem ganhar o prêmio na categoria Moda, terá a sua coleção lançada pelo magazine. Rocha é um entusiasta do projeto. Pergunta como foram as inscrições, as próximas etapas, como está o dia-a-dia do idealizador Paulo Borges e quais são os candidatos que mais se destacaram em todo o país. “Para mim, o Movimento HotSpot veio dar uma chacoalhada no mercado criativo brasileiro. Às vezes, os jovens não percebem seu próprio talento e como as dimensões geográficas do Brasil, fica díficil ser visto e descoberto. A plataforma do MHS vem quebrar essa barreira”.

E de dimensões geográficas ele entende. No ano que começa, a Riachuelo deve estar em todos os estados brasileiros e em três anos e meio, o número de lojas deve saltar de 155 para 300. Tudo isso abastecido com 70% de produção própria em 4 fábricas instaladas em Natal e 4 em Fortaleza. O restante é dividido entre fornecedores nacionais e internacionais, basicamente a China. Neste entrevista, ele fala de moda, parcerias, educação e economia criativa.

Fast Fashion

O conceito criado em Harvard é adotado pela Riachuelo, porém a marca vai além. O guarda-chuva da empresa vai da tecelagem ao crédito. Ou seja, além produzir a matéria-prima, fabricar as peças, distribuí-las e vendê-las, oferecemos ainda o cartão de crédito para o consumidor comprar os nossos produtos. Com isso ganhamos agilidade, velocidade, fluxo contínuo, controle de estoque, variedade e preço. Só este ano, lançamos mais de 39 mil produtos diferentes . Diariamente, o consumidor pode encontrar 100 novidades em cada uma de nossas unidades. Há um frescor que atrai o cliente para o ponto de venda. Nosso departamento de estilo tem 80 profissionais ligados no que há de mais atual. O que vendeu mais, produzimos mais. Nosso estoque não se degrada e por isso, temos poucas liquidações. Já que vendemos o que o cliente quer, por um preço justo.

Coleções

Temos, hoje, 5 milhões de alvos de estoques. Um produto novo demora cerca de 10 dias para chegar as lojas. Apenas 25% de nosso vestuário é pautado pelas estações. Em algumas lojas, entramos com peças de frio para proteger. Para a grande maioria, o que muda é o look, a cartela de cores. A nossa renovação é constante. Acompanhamos o dinamismo da moda sem nos prender se é verão, outono, inverno ou primavera.

Classe C

Nossa missão é dar acesso a moda. Primeiro, havia um grande número de pessoas excluídas deste universo. Que se relacionava com a roupa apenas por causa da necessidade de cobrir o corpo. Mais importante que a democratização da renda, o que aconteceu no Brasil, foi a democratização da informação. A classe C entendeu rapidamente que a moda é uma forma de expressão e nós optamos em atender um público que não tem tanto dinheiro, mas tem a informação e por isso deseja e vai atrás do design, da marca, da qualidade.

Parceiras

Por isso, entendemos que as parceiras com estilistas foi uma grande sacada. Fazemos isso desde a década de 80. Quem primeiro entendeu esse público e aceitou o nosso convite foi o estilista Ney Galvão. Ele foi um visionário e quebrou todos os paradigmas da época saindo da segmentação e atingindo um público muito maior, que tinha orgulho de usar as suas roupas. Depois vieram tantos outros: Osklen, Fause Hauten, André Lima, Cris Barros, Pedro Lourenço. Este mês, a maior barreira de todas  foi quebrada. Lançamos uma coleção Daslu – o ícone da moda classe AA. Os modelos tem o mesmo DNA, a mesma qualidade, o mesmo talento criativo, só que com preços 80 a 90% mais em conta. A mágica é a tecnologia. Podemos gastar fazendo mostras, desenvolvendo, testando o produto e depois produzir em escala suficiente para barateá-lo.

China

A competividade da indústria têxtil chinesa vem do intenso apoio do governo local que resolveu especializar o país para atender esse mercado. A China compra atualmente 70% de todo o maquinário têxtil produzido em todo o mundo. Por isso, os nosso produtos que são menos sensíveis ao tempo, as tendências, são fabricados lá ,como a nossa linha para casa. O que tem uma demanda mais imediata, uma informação de moda, fabricamos aqui.

Brasil

A última década, vimos acontecer aqui um verdadeiro milagre ecônomico, só que com um foco muito excessivo na demanda, no crédito, no consumo e na competitividade. Era como se o País fosse uma grande fazenda, onde passamos anos só colhendo e esquecendo de plantar. Isso não é sustentável. Por isso, vejo com bons olhos as ações do governo voltadas para a criação de infraestrutura, a desoneração da produção local, a queda das taxas de juros, a diminuição da carga tributária e as mudanças na legislação trabalhista.

Jovens

Nosso empresa é familiar. Tenho quatro filhos e apenas um trabalha comigo. Nós adotamos a governança coorporativa. Meu desafio é atrair e reter talentos para o varejo. O varejo é um lugar rico em oportunidades para jovens. Percorro as universidades para lembrar os estudantes que não existe apenas o mercado financeiro ou multinacionais. Que o comércio também oferece um plano de carreira sólido e ascensão profissional. Falo que a nossa riqueza não é mão-de-obra e nem capital, mas talento intensivo. Vivemos colocando tijolo sob tijolo com milhões de pequenas decisões diárias e que nosso sucesso depende 100% da soma destas competências individuais.

Educação

O nosso maior problema é a educação. O jovem  que consegue superar a barreira da deficiência educacional poderá mostrar ainda mais a criatividade, o empreendedorismo, a combatividade, inerentes ao brasileiro. O problema é o péssimo sistema educacional que ele está inserido e não é só uma questão de investimento. Há uma enorme resistência em se aplicar a meritocracia nas escolas tanto para alunos como para professores. Se isso acontecesse, viria à tona com maior facilidade a fantástica genialidade do povo brasileiro.

MHS

O Movimento HotSpot vai ajudar a tornar mais patente a criatividade e ajudar a organizar os talentos e aptidões que estão adormecidos. O Movimento é muito oportuno. Temos de garimpar o que existe nos quatro cantos do País, pois muitos não tem consciência e precisa de alguém que vá in loco, estimule, diga que é talentoso. Minha expectativa é bastante alta de que vamos conseguir revelar um contigente de pessoas criativas que estava escondido e sem forma de se mostrar. O MHS deve chacoalhar essas pessoas para chamar a atenção delas próprias sobre o seu talento.

Economia criativa

Cada vez mais a economia é menos matéria-prima e mais inteligência e criatividade. E isso deve se refletir no PIB do país do que medirmos apenas a geração de empregos como é feito tradicionalmente. O Brasil tem um espírito latente de empreendedorismo. Tem um povo trabalhador, criativo e isso tudo deve ser convertido em riqueza o quanto antes.

 

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