The Creators Project por Muti Randolph
Não vale fazer trocadilho com seu nome. Mas que combina o nome com a pessoa,não se pode negar. Muti Randolph é mais que um artista multimidia. Cenógrafo, engenheiro de iluminação, designer gráfico, arquiteto. Difícil escolher o que melhor se encaixa para definir seu trabalho. É tudo junto e misturado.
Com essa pluralidade, tendo como elementos principais a música, a luz e o design, ele vem transformando a arquitetura, mudando a cara de passarelas, clubes, lojas e conquistando o mundo. Ele é um dos poucos brasileiros a fazer parte do seleto grupo do The Creators Project que reúne mentes criativas de todos os continentes.
Formado pela PUC-RJ, seu sonho de criança era ser médico. Chegou a cursar biologia até se dar conta que a arte era sua praia. Tudo isso ele vai contar no scouting de Belo Horizonte que acontece amanhã, no Memorial Minas Gerais Vale, às 19 horas. Antes, o curador da categoria cenografia respondeu as seguintes perguntas para o blog do Movimento HotSpot
MHS: Como um artista tão completo, você já participou do SPFW como cenógrafo do evento, de desfiles e de lounges. O que difere no processo de criação?
Muti: Apesar conviverem no mesmo espaço e no mesmo evento, são projetos totalmente diferentes. Cada um tem um fim específico e características próprias. Eu procuro sempre criar espaços bonitos, inusitados e conceitualmente sólidos. Tem de serem também coerentes com o tema do evento, a coleção, no caso de desfiles, e o produto/empresa, nos lounges.
MHS: Falando do SPFW, como é receber um tema como tem cada edição e desenvolver algo isso ainda mais no tamanho da Bienal como você fez em 2006?
Muti: Eu gosto de trabalhar em cima de temas. Faço pesquisa e tento oferecer uma visão pessoal e diferente. No caso da bienal, além do tamanho, tem a personalidade da arquitetura do prédio que é muito marcante. É um desafio construir algo que complemente, transforme ou contraste de uma forma harmoniosa e interessante.
MHS: Sua relação com a Melissa é antiga. Isso acaba sendo mais fácil na criação de uma linguagem e principalmente de uma estética própria que acabou se traduzindo na Galeria da Oscar Freire ?
Muti: Sim, absolutamente. Os lounges que eu criei para a Melissa na SPFW foram como um laboratório para a Galeria Melissa.
Galeria Melissa na Rua Oscar Freira em São Paulo
MHS: Como é atender um cliente comercial e criar como artista? O processo é o mesmo?
Muti: Na essência, são processos muito diferentes. Mas no meu caso, nem tanto. Em geral, eu só me interesso por projetos comerciais onde eu tenha condições de realizar um trabalho que eu acredite que possa ultrapassar o objetivo comercial dele. Vejo como uma oportunidade de criar arte no contexto do dia a dia das pessoas. Acho que a arte não deve ser confinada a museus, galerias ou casas de colecionadores. Acredito que a arte deve estar presente em tudo.
MHS: Você tem atuado em várias frentes desbravando a computacão gráfica, qual conselho daria a um jovem profissional que pretende ingressar nesta área?
Muti: O computador democratizou os meios de produção cultural. Hoje qualquer moleque tem acesso a ferramentas profissionais. O meu conselho é que esses jovens aproveitem o máximo possível se aprofundando nas ferramentas disponíveis, mas deixando em primeiro plano sempre a ideia, o objetivo, o conceito, a razão que está por trás de tudo. O computador facilita tambem a apropriação e a cópia. Usar uma parte de uma imagem, espaço ou música para criar algo novo pode ser bom. Mas quando se copia uma solução, dando apenas uma enganada no processo para fingir que é novo, é imoral. Se Picasso, um gênio inventivo, um dia, realmente, falou que bons artistas copiam e grandes artistas roubam, ele se referia a a natureza, ao mundo, não ao trabalho de outros artistas. Essa é uma das citações mais deturpadas e aproveitadas por preguiçosos e gente sem talento para copiar trabalhos alheios.
MHS: Qual o segredo de uma boa cenografia?
Muti: Ela deve funcionar em conjunto com o objeto, enriquecendo a experiência do público e ajudando a contar uma história. Além disso, deve aproveitar da melhor maneira possível o espaço e os recursos disponíveis. Por fim, ser bem desenhada e construída.
MHS: O que um jovem deve ler, pesquisar, estudar para criar referências nesta área?
Muti: Boas publicações físicas ou eletrônicas especializadas em design, arquitetura e arte. Infelizmente, há pouco material disponível em portugues. Logo é fundamental ler ingles.
MHS: De todos os projetos tão diversos que fez, qual o seu preferido? Porque?
Muti: É difícil falar de um. O desfile que eu mais gostei foi o do verão 2007/8 para a Colcci no Fashion Rio. Lá, eu criei uma escultura de 600 metros quadrados de um mar de isopor em fatias com ondas por onde os modelos desfilavam. O D-edge foi o meu projeto permanente que mais teve repercussao, tornando-se uma referência mundial em desenho de pista de dança. As instalações deep screen e mirage, que eu montei para o Creators Project em Nova York, Beijing e no Coachella em 2011, marcam uma nova fase na minha carreira com objetos/espaços livres de função comercial (apesar que no caso do Coachella tinha também uma funçao de iluminação cênica para o espaço público de uma tenda.
Elogiado projeto da casa noturna D-edge em São Paulo
MHS: Atualmente, quais projetos tem desenvolvido?
Muti: Estou desenhando um restaurante em São Paulo, o novo D-edge no Rio e aperfeiçoando os softwares de synch com audio e midi que tenho usando em apresentacoes audiovisuais ao vivo.
MHS: Qual conselho vc daria para os participantes do MHS?
Muti: Não se limitem a apenas uma área, nem dependam de uma escola ou faculdade para obter conhecimento. Aproveitem a tecnologia para experimentarem em diversas disciplinas e pesquisarem.
Efeitos audiovisuais para co concerto da pianista Clara Sverner