“Eu vivi a vida plenamente / Viajei por todas as estradas / E mais, muito mais do que isso, / Eu fiz isso do meu jeito”. Com os famosos versos de Frank Sinatra, o artista plástico Speto define seu trabalho multimidia que vai de shape de skates, grafite, a dar uma cara para o rock nacional passando por gravuras, telas, acrílicos até trabalhos encomendados por grandes marcas como Nike e Brahma. Suas obras estão espalhadas por 15 países.
Com a arte na veia desde criancinha – a mãe carregava ele e os irmãos para fazerem curso de arte, começou sua carreira quando estava no colegial. Como a escola não era mesmo seu forte, largou tudo e foi se “instruir” com as turmas do skate, hip-hop, rock nacional e por aí afora. “Deixei o colégio, pois tudo o que eu queria não se encaixava nos padrões de ensino. Precisava ser auto referente para criar algo novo. Um caminho mais difícil, prazeroso e desastroso, vez ou outra. De poucos arrependimentos, mas com a certeza de fazer do meu jeito,” conta Speto.
Essas referências foram tão variadas quanto multidisciplinares. Do cinema, veio filmes como o “Beat Street” e o “Breakdance”, que o introduziram no mundo do skate. Da música, “Dead Man’s Party”, do Oingo Boingo, despertou seu interesse por xilogravuras do Nordeste e a literatura de cordel. Depois, na década de 90, trabalhou com bandas como Raimundos, Planet Hemp, O Rappa, se apegando ao live-painting que é a mistura perfeita de música e arte. Da pintura, o grande inspirador é Pablo Picasso, considerado por ele um artista corajoso para sua época. Da arquitetura, Oscar Niemeyer, e sua paixão pela vida e pelas mulheres que se reflete nas curvas dos seus projetos. Das artes marcias, Bruce Lee que gostava de romper com a tradição e criar algo novo. Dos museus, cursos de história da arte do MAM e de xilografia do Atelier Piratininga. Da literatura, está em sua lista de leitura “Retrato do Brasil”, ensaio sobre a melancolia brasileira de Paulo Prado.
Com tudo isso no seu background, faz sentido o trecho da música da Nação Zumbi que Speto escolheu para definir o seu processo criativo. “Que eu me organizando posso desorganizar/ Que eu desorganizando posso me organizar.” Seu trabalho de ilustração é uma técnica de colagem onde produz os elementos a serem fotografados ou mesmo escaneados e depois, finaliza tudo no computador. Vai criando assim, um banco de imagens e ideias. Se recebe uma encomenda, analisa qual a melhor forma de empregá-la e a técnica mais apropiada. Faz um primeiro layout e discute com o cliente. Depois de aprovado, é som na caixa e mão no teclado. “Divido meus jobs em duas etapas. Primeiro, pesquisa e inspiração. Em seguida, produção”, afirma o artista.
Para ele, um bom ilustrador deve entender acima de tudo qual é o suporte de seu trabalho. Mesmo que o produto final seja “achatado” porque será impresso em um papel ou tela, é importante observar o olhar do espectador. Um livro será visto de muito perto. Um grafite, de longe. “Compreender este diferencial entre distâncias é fundamental”, sentencia. “Além disso, a originalidade conta muito no âmbito profissional. Diretores de arte e clientes procuram artistas que saibam como estimular o olhar e serem diferentes dos demais e brasileiro gosta de novidade, amigo, saiba disso.”
Como curador da categoria ilustração do Movimento HotSpot, ele aconselha os candidatos a selecionar os trabalhos que mais gostam em qualquer escopo: embalagens, produtos, posters, capas de CD, animação, grafites, telas. “Ilustração é arte aplicada. Enfim, mostre o que tem de melhor..dont give up the figth!”, afirma Speto.