Valério Festi é um arquiteto de eventos

Valério Festi é um arquiteto de eventos. Mas não um evento qualquer. Em seus espetáculos, ele personifica seu sobrenome e cria uma verdadeira festa em céu aberto. Seu palco preferido é sempre o espaço público. São nas praças, castelos, museus que encenam seus shows que mistura cenografia, vídeo, música. Em parceria com sua companheira Mônica Maiomone, a ideia vai ganhando formas, movimentos, cores. Máquinas são criadas para cada show. E assim esse italiano vai montando o espetáculo de abertura do ano da Itália, no Rio de Janeiro, a Parada do Columbus Day, em Nova York, a abertura da Fórmula Um em Cingapura, o Festival de Luzes de Natal, em Curitiba, os enfeites da Galeria Lafayette, em Paris e tantos outros.

 

Em entrevista ao Movimento HotSpot fala de sua profissão tão peculiar e da graça de criar sonhos para encantar multidões.

MHS: Como é o processo criativo de um espetáculo? Como funciona a parceria com Monica Maimone e outros membros da equipe?

Valério Festi: Quando começamos a produzir um espetáculo, tem todo um trabalho de elaboração. Primeiro, começamos a ver qual é a ocasião do espetáculo e qual é a mensagem que os solicitantes dos espetáculos querem passar. Em seguida, visitamos o local, estudamos a história a qual iremos contar e o tipo de público para qual o espetáculo é dirigido. O trabalho de elaboração do projeto em geral é meu  sobre um brief muito preciso. A Monica Maimone elabora os espetáculos. Em seguida, entram os produtores, os músicos, os atores, toda a nossa gama de artistas que transformam a ideia em realidade.

MHS: Aliás, como é trabalhar com tanta gente para conceber um espetáculo e também para montá-lo?

Valério Festi: Trabalhar com o staff do Studio Festi é entusiasmante. São naturalmente numerosos e de grande profissionalismo. Quando falamos de um espetáculo do Studio Festi, falamos de palcos enormes e apresentações para milhares de pessoas. Para podermos trabalhar com tantas pessoas, fazemos reuniões onde se explica o espetáculo e ideia que queremos passar ao público. Em seguida, as funções são claramente delegadas e assim, nossa equipe tem na cabeça tudo o que acontecerá no espetáculo e quão importante é sua função e porque a está fazendo.
MHS: Como misturar tantas artes como dança, musica e vídeo de uma maneira bela e sincronizada?

Valério Festi: Com relação ao “de uma maneira bela e sincronizada” muito obrigado pelo elogio. E sobre a mistura das artes, é um trabalho espontâneo e necessário porque deriva da peculiaridade da visão do público que assiste ao espetáculo. Comunicamo-nos com um público que geralmente está em pé e distraído ao que acontece ao seu redor, que está com uma concentração diferente ao de um público que está em uma sala de teatro. E devemos capturar todos os seus sentidos desse público de modo que devemos utilizar dança, vídeo e música e a possibilidade de sincronizá-las nasce de um longo trabalho “na mesa” já que o espetáculo é em um local público e não podemos isolar o local por muito tempo. Então a sincronização é fundamental para o bom andamento do nosso trabalho.
MHS: Qual é o papel da tecnologia e quando ela entra em cena? Usa computador para criar os projetos? Desenvolve maquinário especial para as montagens?

Valério Festi: A tecnologia é sempre presente, pois trabalhamos com tecnologia contemporânea, que são ferramentas de extrema utilidade para o desenvolvimento de nossos projetos. Para virtualizar nossas ideias ou como instrumento de comunicação entre nosso staff. Sim, temos maquinário específico para cenografia, o qual é testado em laboratório primeiro, e depois usado nos espetáculos e também nos espetáculos sucessivos. Mas a grosso modo podemos falar que pelo menos uma máquina é desenvolvida para cada espetáculo.

 


MHS: Como é criar espetáculos para cidades tão diferentes? Há de alguma forma um estudo e/ou uma inspiração local?

Valério Festi: Para cada espetáculo estudamos a história e a cultura local, além de estudarmos a fundo a temática do espetáculo em questão. Por exemplo, para o espetáculo de 400 anos da cidade de São Luís foram feitos 2 meses de estudos da parte de uma equipe de 8 pessoas.

MHS: Como consegue manter um aspecto tão amplos de atuação que vai de Natal, a F1 passando por celebrações a vitima de terremotos no Japão? Há sempre uma linha condutora nestes trabalhos ou são completamente diferentes entre si?

Valério Festi: Podemos dizer que sim. Toda vez que fazemos uma das nossas peças, trabalhamos para contar uma história através de um símbolo, de imagem, de um texto, em que não deve ter somente a ação e a beleza da peça apresentada, mas também deve produzir o aprofundamento intelectual no público, deve gerar um sentimento em quem assiste ao espetáculo. Podemos descrever em uma palavra do vocabulário italiano “Racconto”.
MHS: A rua, o espaço público, é sempre o melhor palco para suas criações?

Valério Festi: Decidimos sair do teatro, porque escolhemos ampliar o nosso tipo de público tanto do mais humilde ao mais abastado, do mais novo ao mais velho. Queremos falar para todos e para tantos e queremos usar o espetáculo para divertir e educar. Não se tem melhor espaço para apresentações do que as ruas, os espaços públicos. É onde as pessoas se encontram. É por isso que escolhemos não somente com que as pessoas venham até nós, mas que nós possamos ir até as pessoas.

MHS: O que se aprende quando se cursa “Ciência do Entretenimento”?

Valério Festi: Aprende-se muito quando se fala das regras, em um espetáculo na rua: sobre as ferramentas que são necessárias para realizá-lo. E se aprende muito sobre a história do espetáculo. Aprendi o significado das festas populares que se tornaram um movimento idealizado por artistas e que na história da Itália atravessou do Renascimento ao Barroco, de Leonardo da Vinci a Bernini. Eles criaram espetáculos que muitas vezes modificaram o aspecto urbano da cidade.

 


MHS: O senhor se define um arquiteto de eventos. O que seria isso?

Valério Festi: Sim, personifico essa definição. São arquitetos de eventos os que criam e arquitetam o evento do início ao fim. Que significa “do início ao fim”? Ocasião, lugar, realização, público. Isto é as variáveis de um espetáculo teatral que não escolhe o lugar cénico, não escolhe seu público, porque é o público que escolhe a peça. Arquitetar um evento é ter conta de todas as variáveis que não dependem somente do artista.
MHS: Aqui no Brasil, qual seria o evento que gostaria de fazer? Um desfile de escola de samba? Abertura da Copa?

Valério Festi: A coisa que mais me interessa é trabalhar com as cidades e falar da história destes lugares usando as tradições, as memórias, a ecologia e o melhoramento do local usado para o espetáculo.

 

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