Chega de saudades de João Gilberto

No diz que me disse carioca, a fofoca do momento é que João Gilberto continua recolhido em seu apartamento no Leblon, mas que desta vez,  se dedica a ler o livro lançado pela Cosac Naify que apresenta ensaios e entrevistadas dadas por ele.

E editora até que tentou uma autorização prévia para lançar “João Gilberto”, mas como faz parte já do folclore em torno dele, o cantor não deu nenhuma resposta e então, a obra saiu assim mesmo. Aliás, todo essa história de mito vai sendo derrubada ao longo das 512 páginas que inclui até artigos acadêmicos de difícil entendimento.

O livro, apesar de caro ( R$215,00), é  peça obrigatória para quem quem conhecer mais sobre o pai a bossa nova por causa de sua abragência e seriedade. A obra está dividida em quatro partes:

Em “De conversa em conversa” estão as principais entrevistas concedidas pelo músico a jornalistas como Armando Aflalo, Tárik de Souza e Nelson Motta para periódicos do Brasil e do exterior – dentre as quais as primeiras, do início de sua carreira e hoje praticamente desconhecidas.

“Presença de João: crônicas e depoimentos” é subdividido em três seções. Em “No calor da hora” estão textos que testemunham o reconhecimento imediato da excelência musical de João Gilberto por parte de ouvintes como Vinicius de Moraes e Luiz Carlos Maciel. “Um músico entre músicos” reúne depoimentos de músicos-admiradores como Dorival Caymmi, Turíbio Santos, Hermeto Paschoal, Chick Corea – com destaque, pelo ineditismo, para a entrevista de Sonny Carr, o lendário baterista do “disco branco”, que faleceu pouco tempo depois. A seção “Antianedotário” revela João Gilberto pelo olhar de quem já esteve presente em situações do seu dia-a-dia, como Arnaldo Jabor, Mario Sergio Conti e o produtor japonês Shigeki Miyata.

“A linha evolutiva”, terceira parte do livro, busca situar a música de João Gilberto na corrente histórica da Música Popular Brasileira, com destaque para as opiniões de Caetano Veloso, para quem o conterrâneo é uma espécie de ponto de chegada que permite ao Brasil situar-se sem complexo de inferioridade em um lugar muito especial na cultura do século 20.

A quarta e última parte do livro diferencia-se das três primeiras, onde a tônica é o resgate histórico, por vários textos escritos especialmente para esse livro. Em “O Brasil de João” estão ensaios que estabeleceram um novo patamar interpretativo da arte de João Gilberto, como “João Gilberto e o projeto utópico da Bossa nova”, de Lorenzo Mammi, mostrando suas relações orgânicas e originais com a música brasileira, sua prosódia, seus ritmos e o primado que a melodia nela possui. Textos de Guilherme Wisnik, Heloísa Starling e Walter Garcia revelam afinidades insuspeitadas entre a música de João Gilberto e outras áreas da cultura brasileira, como a arquitetura de Lucio Costa e Niemeyer, a prosa de Guimarães Rosa e o “homem cordial” de Sérgio Buarque de Holanda. “Um artista moderno” traz perfis pioneiros escritos por Ronaldo Brito, José Miguel Wisnik e Edinha Diniz. A seção “Pelo mundo” reúne resenhas de época e ensaios inéditos sobre a recepção internacional da música de João Gilberto, especialmente nos Estados Unidos, na Itália, na França e no Japão. Por fim, a seção “Segredos do ofício” disseca alguns dos aspectos propriamente técnicos da arte do músico, com análises comparativas dos maestros Diogo Pacheco – esta publicada em 1963 na revista Senhor – e Cláudio Leal Ferreira, junto a ensaios e depoimentos dos músicos Luiz Tatit, Aderbal Duarte, Thiago Martins Pinheiro e Cláudia Neiva de Matos.

“João Gilberto” tem ainda fotos raras e inéditas, uma cronologia de vida e obra, discografia e bibliografia selecionada, passando em revista toda a trajetória do artista e foi organizado por Walter Garcia, professor do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo e autor de Bim bom – João Gilberto, a contradição sem conflitos (Paz e Terra, 1999), cuja nova edição será publicada pela Cosac Naify em breve.

 

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