Recebendo o prêmio da Categoria Ideia. Crédito: Rodrigo Fonseca
Em abril, Manuela Marçal Yamada expôs as embalagens Botiá feitas de fibra de coco e amido de milho na Mostra Rio+Design Milão 2013. O sucesso foi tanto que ela saiu de lá com um pedido feito. De volta ao Brasil, encarou a dura realidade de não poder fazer a entrega já que não havia ainda desenvolvido uma metodologia e nem os equipamentos necessários para a produção em escala.
Agora, essa realidade começa a mudar. Manuela foi a grande vencedora do prêmio Movimento HotSpot e vai receber até 200 mil reais de investimentos para implantar a sua ideia e finalmente, atender as encomendas dos italianos e outros clientes no Brasil e no mundo. “Ganhar foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para mim. Estou realmente feliz”, comentava na noite de entrega. “O projeto está trilhando o melhor caminho possível e como sempre digo, a calma é uma virtude”.
Sua consistência, seriedade e empenho conquistaram o grupo de curadores da categoria Ideia. Com apenas, 24 anos, contou durante o trajeto do hotel para o Memorial da América Latina, que tem alma de 60. Se referia apenas a energia gasta para baladas. “No trabalho, se precisar virar à noite, faça sem problemas. Assim eu me divirto. Agora passar a madrugada dançando e bebendo não é comigo”.
Durante os cinco dias do Tanque de Ideias, ela foi incansável. Trabalhando com a equipe de Rogério Hideki, produzia traquitanas, coordenava horários, dividia tarefas e até na noite anterior a apresentação, ficou, solidariamente acordada no quarto do hotel com os outros candidatos que estavam produzindo o vídeo. “Não achava justo, eles trabalharem sozinhos. Fiquei ali para ver se podia ajudar em alguma coisa”, relembra. Foi dela também o método encontrado para conduzir as falas das pessoas durante as reuniões de brainstorm. Ela sugeriu que utilizassem um bastão preto na mão da pessoa que estava falando e um vermelho, na que se manifestaria em seguida. Assim, todos tinha oportunidade de emitir suas opiniões de forma ordeira.
Tudo isso, ela aprendeu morando sozinha e viajando pelo mundo. Em 2011, morou na Espanha onde fez um curso de História da Arte, escolhendo matérias onde o tema do ser humano e o uso da arte eram mais presentes. De volta ao Rio, começou a desenvolver com a colega Natália Bruno, um novo material cem por cento natural e bio-compatível obtido através do reaproveitamento da casca do coco verde que foi apresentado como trabalho final da Faculdade de Desenho Industrial da PUC-RJ.
Para colocar o projeto em pé, partiu para se tornar incubadora do Matéria Brasil. Logo, ali também perceberam o potencial dela e do que havia criado e ela, acabou sendo contratada e assumindo novas funções. Agora vai tentar conciliar até onde dá e depois alçar voos sozinha. “Quero muito aproveitar bem a ajuda do Sebrae e da Luminosidade para os próximos passos. Sei que a primeira coisa a fazer é registrar todo o processo que já criei nos últimos mês no INPI e depois partir para o maquinário”.
Com isso, espera baratear a produção das embalagens “Botiá”, que imitam ninhos e por isso protege os alimentos, moldando-se a eles. Outra característica do produto é que ele pode ser dissolvido em água. Com isso, suas fibras podem ser recicladas e reutilizados em novos produtos, inclusive feitos pelos próprios consumidores. Dá para criar até objetos de decoração.
Do lado social, Manuela pretende treinar catadores tanto para recolher os cocos descartados na praia como também os capacitando como mão de obra na produção da embalagem.
Por trás, da sua carinha assustada e feliz no palco do Movimento HotSpot, há muita inteligência e força de vontade para fazer uma revolução no design.
Manuela na mostra Rio+Design em Milão. Crédito: Divulgação
Manuela e André Cruz, outro vencedor da categoria Ideia, durante a fase de imersão. Crédito: Homero Nogueira
Manuela trabalhando com a equipe de Rogério Hideki – Crédito: Homero Nogueira