Economia criativa sem amarras

Segundo a ONU, a Economia Criativa, hoje, é responsável por 10% do PIB mundial. De acordo com dados divulgados pela UNCTAD1, entre 2000 e 2005, os produtos e serviços criativos mundiais cresceram a uma taxa média anual de 8,7%, o que é mais do que a média dos setores manufatureiro e industrial. Áreas como o turismo e o entretenimento crescem seis vezes mais que a média de toda economia.

Em um mundo gerido por uma crise econômica, a saída pode estar neste setor. As dificuldades ainda são muitas, passando logicamente pela barreira da burocracia. Por isso, esta tarde, durante o Festival Movimento HotSpot, em São Luis, o tema será debatido na Roda de Conversa: “Formalização de Empreendedores Criativos”, com as participações de Rânio Gamita, contador e  consultor do projeto atendimento individual do Sebrae-MA, Bem-Hur Real Figueiró, produtor de áudio e vídeo, maquiador e sócio proprietário da empresa Freela Conteúdo, Mariana Ochs , diretora criativa, criadora do escritório Modesign e curador na categoria Design Gráfico, com a mediação de Reijane Lucas, analista e gestora do projeto atendimento individual do Sebrae-MA.

Sendo economia criativa o processo que engloba criação, produção e distribuição de produtos e serviços que usam a criatividade, o conhecimento e o ativo intelectual, pode se enquadrar nesta cadeia produtiva os setores do cinema, música, design, animação, jogos, moda, gastronomia, TV e rádio, publicidade, arquitetura, mercado editorial, artes visuais, artes cênicas, cultura digital, tradicional e expressões populares. A questão é como colocar tudo isso embaixo de uma legislação eficiente e que incentive ainda mais a produção.

“O primeiro desafio está ligado a uma mudança de mentalidade, porque nossas lideranças ainda estão muito focadas no modelo do passado, que fizeram sentido nos anos 1970. Ainda não entramos no modelo do século XXI. Toda essa questão da sustentabilidade e da economia criativa não está tão priorizada como deveria, e nisso estamos atrasados. Na China, por exemplo, desde o ano passado as duas prioridades do país são economia criativa e economia verde”, conta Rânio Gamita. “Outro desafio está ligado ao modelo. Porque, mesmo onde já se percebe a importância de trabalhar com economia criativa, muitas vezes não se tem dimensão do que estamos falando, e continua parecendo que economia criativa é o setor artístico, alguma coisa do artesanato. Não há a verdadeira dimensão do que é economia criativa e, portanto, de como trabalhar com isso.”

Como tudo isso é muito novo, o governo resolveu criar, em janeiro de 2011, no âmbito do Ministério da Cultura, a Secretaria da Economia Criativa que está à frente de plano de economia criativa, chamado Brasil Criativo, com a participação de dez ministérios, mostrando a importância de uma governança transdisciplinar.

“Não temos essa transdisciplinaridade nem na formação, no estudo, porque as escolas estão todas compartimentadas não temos isso dentro das empresas e não temos isso no governo, então estamos avançando pouco, porque estamos tentando com uma cabeça compartimentada resolver problemas que são sistêmicos”, comenta Rânio.

Atuando como produtor de áudio e vídeo, maquiador, Bem-Hur Real Figueiró, conseguiu agregar todas em sua habilidades sob a guarda-chuva da empresa Freela Conteúdo. “Conseguimos juntar tudo de forma muito natural, uma vez que a maquiagem se insere no mercado audiovisual e  vice-versa. Como atuamos em áreas distintas(produção, edição, fotografia, coprodução, etc), sempre contratamos profissionais freelancers para compor nossa equipe de acordo com a necessidade da empresa”, explica. “A única dificuldade encontrada, foi na Secretaria de Fazenda de São Luis para a emissão do alvará, pois não há profissionais capacitados com conhecimento suficiente sobre as novas modalidades de empreendedorismo.”

Para se ter uma ideia do nosso atraso, nos últimos no ranking do Banco Mundial, entidade que produz um estudo sobre os países mais fáceis para abertura de empresas (Doing Business): de 183 países pesquisados, o Brasil ficou na 126ª posição.

A formalização das atividades ligadas à economia criativa pode ocorrer através do registro empresarial, dependendo, sempre do modelo de negócio a ser adotado. A figura jurídica  mais simples é do Empreendedor Individual (EI). Criada em 2009, abrange, entre outros profissionais, artistas de várias atividades. Para se tornar um EI, é necessário que o empresário fature até R$60 mil por ano, não participe de outra empresa como sócio ou titular e trabalhe sozinho ou tenha, no máximo, um empregado. Ao se formalizar, são garantidos benefícios como acesso à aposentadoria, auxílio-doença e salário-maternidade, a possibilidade de vender para grandes empresas e fornecer para o governo, além da abertura de conta bancária como pessoa jurídica.

A formalização é feita pelo site www.portaldoempreendedor.gov.br. O empreendedor precisa ter em mãos CPF e comprovante de residência, mas, caso haja dificuldades em acessar a internet ou se precisar de mais informações, basta procurar algum dos pontos de atendimento do Sebrae que até lançou um cartilha com o passo-a-passo deste processo.

Apesar de tudo isso, estudo encomendado pela Prefeitura do Município de São Paulo mostra que a economia criativa não só tem ganhado destaque, mas tem gerado empregos. Hoje, 1,87% dos empregos formais do Brasil, 2,21% da Região Sudeste, 2,46% do Estado de São Paulo e 3,47% dos empregos do Município de São Paulo estão ligados diretamente à economia criativa. As empresas do setor já movimentam R$ 381 milhões, ou 2,6% do PIB brasileiro, segundo mapeamento da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). “São números que mostram que o empresário está despertando para a qualidade de seus produtos e serviços e pela busca de diferenciais no mercado”, finaliza o contador.

Programação

10 de julho, quarta-feira

13h30 – 21h  visita à exposição Movimento HotSpot

14h – Roda de ConversaArte e fotografia: os canais de distribuição na cena contemporânea com Renato de Cara

O diretor e curador da Galeria Mezzanino fala de sua experiência na organização de exposições individuais e coletivas, impulsionando a inserção de jovens talentos no mercado de arte.

15h30 – Roda de ConversaFormalização de Empreendedores Criativos

Rânio Gamita – Contador e  consultor do projeto atendimento individual do Sebrae-MA

Bem-Hur Real Figueiró – Produtor de áudio e vídeo, maquiador, sócio proprietário da empresa Freela Conteúdo

Mariana Ochs – diretora criativa, criadora do escritório Modesign

Mediadora: Reijane Lucas, Analista e gestora do projeto atendimento individual do Sebrae-MA

16h30 – Oficina Repentina de Criação Coletiva com Delano Rodrigues (UFMA)

Participantes utilizarão metodologias de co-criação para produção de um vídeo de recortes de imagens que será projetado no evento de encerramento do Festival com show da Banda Criolina. (até 30 vagas)

20h – show de abertura com artista convidado – Phill Veras

11 de julho, quinta-feira

9h – 13h – Oficina Repentina de Criação Coletiva com Delano Rodrigues (UFMA)

(continuação dos trabalhos do grupo formado dia 10)

13h30 – 21h visita à exposição Movimento HotSpot

14h – Design Gráfico e a Economia de Rede. Uma conversa com Mariana Ochs

A tecnologia permite que os designers se apropriem dos processos de produção e se tornem autores, as disciplinas estão muito misturadas, o crowdsourcing é uma realidade, as técnicas artesanais convivem com a midia digital. E agora? Mariana Ochs, designer que já criou projetos para as revistas Esquire, Premiere, Popular Science, Mademoiselle e City, além as brasileiras Vogue, e Carta Capital, fala sobre o que é Design Gráfico hoje em dia.

15h30 – Roda de conversa Empreendedorismo Cultural

Luciana Simões – Artista, Produtora Cultural, Coordenadora do Projeto BR 135.

Nadir Olga Cruz – Turismologa,  Produtora Cultural, Artista Popular, Coordenadora do Ponto de Cultura Floresta Criativa

Renato de Cara – fotógrafo, diretor e curador da Galeria Mezzanino

Mediadora: Hildenê Maia  – Analista e gestora do Projeto de Beleza, entre 2007 e 2010 foi gestora do projeto de cultura “Ilha dos Encantos”

17h – 20h – Oficina Repentina de Criação Coletiva com Delano Rodrigues (UFMA)

(continuação dos trabalhos do grupo formado dia 10)

20h – Show  Projeto Guerreiro Zumbi – banda selecionada pelo prêmio Movimento HotSpot

21h – Show de encerramento com artista convidado: Banda Criolina

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