Galpão: 30 anos de processo coletivo de criação

Tia Vânia será um dos espetáculos apresentados pelo Grupo Galpão. Crédito: Guto Muniz

Das ruas de Belo Horizonte ao Shakespeare’s Globe Theatre em Londres. Entre o primeiro espetáculo do Grupo Galpão, na Praça 7 à remontagem do clássico “Romeu e Julieta”, na capital inglesa, se passaram 30 anos de muita história e dedicação aos palcos.

Como balzaquiano, o grupo é mais que um exemplo de trabalho coletivo sem receita pronta que deu certo. Desde a cena lá em 1982 até o próximo espetáculo “Os gigantes da montanha”, do italiano Luigi Pirandello, com direção de Gabriel Villela, com estreia marcada para junho de 2013, o processo de trabalho é o mesmo, ou seja, nada é pré-definido. “Não existe um modelo de criação. Como somos um grupo de atores que trabalhamos com diferentes diretores convidados, cada espetáculo representa uma maneira de trabalhar diferente”, conta Eduardo Moreira, ator, diretor e fundador do Grupo Galpão. “A idéia do espetáculo muitas vezes é trazida por um diretor ou longamente discutida pelo coletivo. É o tipo de coisa que também não segue uma receita. Das primeiras discussões até a concretização de um projeto artístico normalmente levamos um ano”.

Com essa liberdade de criação e a parceria com diferentes diretores convidados, como Fernando Linares, Paulinho Polika, Eid Ribeiro, Gabriel Villela, Cacá Carvalho, Paulo José, Paulo de Moraes, Yara de Novaes, Jurij Alschitz (além dos próprios componentes que também já dirigiram espetáculos do Grupo), o Galpão forjou sua linguagem artística a partir desses encontros diversos, criando um teatro que dialoga com o popular e o erudito, a tradição e a contemporaneidade, o teatro de rua e o palco, o universal e o regional brasileiro. “Sempre tivemos uma relação de respeito e de amizade com os diretores”, frisa Moreira. “A prática nos ensinou a dar espaço e poder a essa figura chave do processo artístico, que é o diretor. Mesmo que isso não signifique que os atores não possam ter suas opiniões.”

Para comemorar, os trinta anos, o Grupo Galpão preparou várias atividade no palco, em artes visuais e exposições. No palco, depois do sucesso em Londre, onde foram aplaudidos em pé, saem em turnê com um repertório de 04 espetáculos (Till, Romeu e Julieta, Tio Vânia e Eclipse) nas cidades Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.

Romeu e Julieta foi aplaudido em pé em Londres.

Para os fãs e cinéfilos, serão lançados três novos projetos audiovisuais: seis curtas, baseados nos contos do autor russo Anton Tchékhov, um documentário sobre a viagem do espetáculo Till, a saga de um herói torto, ao Chile, e outro documentário com pessoas que viram Romeu em Julieta na estreia, em 1992, na Praça do Papa, e agora tem a oportunidade de rever, em 2012, no mesmo local. A finalização das produções está prevista para 2012; a linha de produtos da boutique será ampliada com novidades para os 30 anos, como os lançamentos de três DVDs dos espetáculos “Till, a saga de um herói torto”, “Pequenos Milagres” e “Um Molière Imaginário”, e de nova edição de oito volumes do Projeto Diários de Montagem que revela os bastidores da produção de espetáculos do Galpão.

Além disso, de maio a novembro de 2012, o Centro de Pesquisa e Memória do Teatro (CPMT) do Galpão Cine Horto apresenta o seminário “O Figurino no Museu”, que coloca em evidência o figurino como peça museológica e fortalece a discussão sobre memória teatral em Belo Horizonte. O evento integra o projeto Grupo Galpão, Memória Feita à Mão, beneficiado com o prêmio Pontos de Memória 2011 do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM). Estão previstos o “Ateliê Aberto” de inventário, recuperação e exposição de figurinos de três espetáculos do Galpão: A Rua da Amargura (1994), Partido (1999) e O Inspetor Geral (2003).
“O Galpão tem que estar se renovando como modo de produção constantemente”, comenta o diretor. “Hoje, o grupo tem um quadro de funcionários bem grande. Isso sem contar o Galpão Cine Horto, nosso centro cultural, que tem uma estrutura ainda maior. Acho que em termos de planejamento econômico e sobrevivência econômica, o Galpão tem muito a ensinar na área cultural”.

Eclipse é mais uma criação coletiva do Grupo Galpão. Crédito: Guto Muniz

E como tem.Ao longo de sua trajetória, o Grupo participou de 41 festivais internacionais (na Europa, América latina, Estados Unidos e Canadá) e de 70 nacionais, em todas as regiões do País. Acumula, ainda, 20 montagens no currículo, e mais de 100 prêmios brasileiros, com destaques para o “Prêmio Shell” (1994 – Rio de Janeiro), nas categorias melhor direção, melhor figurino e melhor iluminação, e para os Prêmios do estado de Minas Gerais “Usiminas Sinparc” e “SESC Sated”, de Reconhecimento Cultural pelos 25 anos de Atividades.
Vida longa ao Galpão!

SERVIÇO

TIO VÂNIA (aos que vierem depois de nós)
Direção: Yara de Novaes
Classificação: 12 anos
Galpão Cine Horto
(Rua Pitangui, 3613, Horto)
29 a 1º de julho
Sexta e sáb – 21h
Dom – 19h
R$30 e R$15 (meia)

TILL, a saga de um herói torto
Direção: Júlio Maciel
Classificação: Livre
Casa da Cultura Josephina Bento
(Av Padre Osório Braga, nº 18 – Centro – Betim)
06/07, sexta-feira – 20h – Entrada Franca
Parque Estrela Dalva
(Av. Costa do Marfim, nº 400 – Estrela Dalva)
07/07, sábado – 18h – Entrada Franca

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