“O Speto trouxe a paixão, o Rogério Hideki, o trabalho colaborativo e o Alexandre Herchcovitch, o direcionamento preciso”. Essas foram as três maiores contribuições dos curadores convidados para o Tanque de Ideias, segundo a fundadora do Mesa&Cadeira, Bárbara Soalheiro.
Foram cinco dias de muita inspiração e principalmente, transpiração. Os 54 candidatos finalistas ralaram desde que receberam o briefing até a apresentação final que aconteceu na noite desta terça-feira.
De cada grupo saíram objetos, ideias, performances, sons e imagens originais que iam de manifestações religiosas à objetos de sonhos , passando pela invenção de um esporte.
Confira abaixo os briefings recebidos de cada grupo e o que foi o resultado final.
MESA 1: ALEXANDRE HERCHCOVITCH
A tarefa do grupo era criar uniformes para a seleção de um esporte imaginário de um país que não existia. Para tanto, seria preciso criar o país – suas cores, sua história, o momento histórico em que vive, suas características mais famosas, etc – e, a partir disso, conceber as roupas.
Nas primeiras discussões, surgiram locais feitos só de escadas, onde não existia a gravidade, até chegarem ao consenso de uma nação fincada nos mares, desenvolvida a partir de um agrupamento de embarcações. O nome dado foi Deriva.
Neste lugar, as crianças pulavam de um navio a outro e assim nasceu o esporte Parkua que consistia em conquistar 5 bandeiras espalhadas, se livrando do adversário e sem cair na água.
Com o conceito geral pronto, o time se dividiu para as várias funções: criar o uniforme propriamente dito, a cenografia do desfile, a atleta, produtos derivados, catálogos, etc.
Naturalmente, Gabriella Martins, da categoria Ideia e Emidio Contente, de Fotografia, assumiram os papéis de coordenação. “Ficamos com o processo gerencial, cuidando das compras, do budget e fazendo as mediações necessárias para botar em pé o que pensamos”, contou Gabriella. “Fiquei quatro noites sem dormir e apesar de não ter muita aproximação com Herchcovitch, ele foi decisivo nas partes em que não sabíamos qual caminho seguir”.
Bárbara reforça esta autonomia do grupo: “eles eram mega independentes, se auto organizavam e partiam para a execução, seguindo o direcionamento preciso do curador”.
Até uma atleta de parkour, Maria Preu, eles encontraram usando o Facebook que acabou participando da apresentação que teve um vídeo, uma cenografia imitando o mar, projeções nas paredes, trilha sonora especial e ainda Alexandre Mury, da categoria Fotografia, fazendo às vezes de mestre de cerimônias.
“Eu aprendei muito nestes cinco dias de trabalho”, afirmou Herchcovitch. “Tive contato com criativos de várias partes do Brasil e puder ver o que cada cultura e forma de pensar agregou para o projeto final”.
Desfile do país DERIVA. Crédito: Homero Nogeira
Modelo e atleta mostram uniformes criados. Crédito: Homero Nogueira
Equipe de trabalho. À esquerda, o MC Alexandre Mury. Crédito: Homero Nogueira
MESA 2: SPETO
Na segunda mesa, a proposta parecia simples: criar estampas de camisetas inspiradas em futebol. Porém, para chegar até elas, Speto apresentou várias referências e pediu para que o grupo construísse protótipos de três fantasias que, na verdade, são entidades místicas e que evocam poder para o futebol, inspiradas pela música Umbabarauma – Homem Gol, de Jorge Ben Jor.
“Queria arrancar deles as memórias da fé, as raízes mais primitivas do esporte mais popular do Brasil”, desafiou o curador. “Era para sair do clichê e eles foram verdadeiros artilheiros batendo um bolão até o minuto final do Tanque”.
Os 45 minutos do segundo tempo foi ao som do tambor com música ao vivo. Os convidados assistiram à uma performance das três entidades criadas: a Mãe Terra, onde tudo acontece e que deve ser reverenciada; o Torcedor, com seu manto sagrado e a sua capacidade de fazer qualquer coisa pela seu time e por fim, o Homen-Gol, um guerreiro, um lutador, um defensor de sua esquadra.
Projeções foram usadas como parte do cenário e no final, as camisetas foram apresentadas acompanhadas dos respectivos santinhos e suas orações. Todo o processo foi gravado e virará um grande making off.
Jajá Menegotto, candidata da categoria Beleza, limpava a sala e guardava o material no final da noite.” Estou bem cansada, foram dias intensos”, disse. “A apresentação fugiu completamente do que a gente esperava. O Speto tirou a galera do prumo. Ele fez com que saíssemos do binômio design/moda e partissímos para o Saravá. Isso tudo, nos virou do avesso.”
O Homem-Gol e o Torcedor. Crédito: Homero Nogueira
A invocação das entidades. Crédito: Homero Nogueira
As camisetas criadas pelo grupo do Speto. Crédito: Homero Nogeira
MESA 3: ROGERIO HIDEKI
“Se eu pudesse, eu levava tudo para casa: os produtos e os meus meninos”, lamentava Rogério Hideki quando acabou a apresentação da criação dos candidatos que fizeram parte do seu grupo.
O desafio passado era bem lúdico e consistia em inventar “engenhocas/traquitanas” interconectadas. Inicialmente, não se pensava em construir fisicamente e sim se valer de recursos multimídia para gerar um resultado que replique a sensação proposta. Os participantes foram muito além disso partindo de um plataforma on-line para realizar desejos que poderíamos adjetivar de singelos. Nasceu daí um Marulho, fone de ouvido para ouvir o barulho do mar; o Desumbigo, que fazia cócegas na barriga; o Refresco, para esfriar a sopa e até um refletor do fim da tarde para que as pessoas pudessem ter sempre sol em suas janelas.
“Posso afirmar que o briefing era muito díficil”, confessou Ligia Giatti, facilitadora do Mesa&Cadeira. “Foi uma loucura, criar, executar, registrar e no fim, os produtos ficaram com a cara de todo mundo e também com a cara do Rogério. Foi muito legal essa interação”.
Na apresentação, o público pode acompanhar um vídeo com a demonstração dos produtos tendo como protagonistas os próprios selecionados. Depois foi aberto o show room das peças e para fechar com chave de ouro, era possível escrever o seu desejo e colocar em uma caixinha para inspirar as próximas criações.
O público conhece as traquitanas. Crédito: Homero Nogueira
Caixinha dos desejos. Crédito: Homero Nogeira