Maquiagem do filme “Xingu” é uma criação coletiva

O cenário é a selva. Os personagens índios e os irmãos Villas Boas. Muito calor. Passagem de tempo. Lutas. Tudo isso deve estar refletido na maquiagem dos atores que fazem parte do elenco do filme “Xingu”, de Cao Hamburger, lançado recentemente. Quem encarou esse desafio foi a tarimbada maquiadora Anna Van Stenn.

Com mais de 30 anos de profissão cuidando da beleza de atores de teatro, cinema e, recentemente, de televisão, essa experiência foi bastante particular. Para retratar diversas etnias indígenas brasileiras, usou elementos naturais como urucum (vermelho) e jenipapo (preto) sem processamento industrial. Como os índios hoje em dia usam roupas, tiveram que maquiar a pele deles com intuito de homogeneizar as diferenças de cor e recobrir as tatuagens definitivas com corretivos, pois elas não existiam na época retratada pelo filme.

Todo esse trabalho é uma criação coletiva com o figurinista, o diretor de arte e o diretor do filme. Por ter uma vasta experiência, a opinião de Van Stenn tem peso na decisão final do make-up. Neste trabalho ainda contou com o especialista André Toral que estudou o roteiro e, através  de desenhos, a ajudou a entender como retratá-los em cada uma das cenas mais  dramática.

Seu trabalho é dividido em duas etapas: primeiro, ela costuma fazer um primeiro encontro com equipe e atores para entender o projeto e quais são as possibilidades de transformação de acordo com interesses criativos e financeiros. Em um segundo momento faz testes com penteados, perucas, colando próteses, pelos e trabalhando os sombreados do rosto. Com estes “rascunhos” em mãos, volta a se reunir com o time, compara as imagens principalmente as de passagens de tempo, estudo as propostas de luz e enquadramento e toma a decisão final.

Para ela, “o maquiador deve procurar atender a narrativa, não simplesmente “embelezar” as pessoas.” Sugere que pequenos detalhes que apareçam na caracterização de maquiagem devem refletir as vivências dos personagens. Por exemplo, as unhas podem ser pintadas ou sujas, cuidadas ou naturais, os cabelos arrumados, super arrumados, despenteados, oleosos, assimétricos, etc.  E acrescenta: “na maquiagem de época, é importante conhecer as práticas de um outro tempo, mas também encontrar peculiaridades, características que contribuam para que um personagem se sobressaia ou se diferencie de uma maioria.”

“Nós devemos sermos bons técnicos, além de desenvolver o lado artístico”, sentencia a profissional. “Observação é a ferramenta, entender as necessidades da obra torna o trabalho objetivo e o respeito as idéias do projeto é a maneira mais eficiente de encontrar soluções adequadas. Pesquisa e inspiração, sempre. “

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