Marcelo Rosenbaum leva sua experiência do projeto “A Gente Transforma” para Vitória.

Foram nas tardes de sábado, durante o programa Caldeirão do Huck, na Rede Globo, que o rosto do designer brasileiro Marcelo Rosenbaum ganhou fama e conquistou espaço com sete temporadas do quadro “Lar Doce Lar”  onde transforma um lugar para morar em uma casa 100% habitável.  A TV é só o lado mais conhecido deste profissional cujo mote de sua criação é a utilidade. Por isso, cunhou o termo “Design útil”. Seus projetos em espaços físicos vão ao encontro do conceito de brasilidade, característica predominante nos trabalhos desenvolvidos pela equipe. Além do trabalho, do dia-a-dia do escritório, Rosenbaum ministra ciclos de palestras para diferentes mercados profissionais, é curador do projeto Movimento HotSpot na categoria arquitetura e está a frente do projeto “ A Gente Transforma” que mudou a vida de pessoas das comunidades  no Parque Santo Antônio, zona sul de São Paulo e em Várzea Queimada, no Piaui.

Na última edição da SPFW, uma exposição do projeto ocupou os andares da Bienal, como fotos de Tatiana Cardeal, a mostra dos produtos produzidos pelos artesões piauienses,  e um texto narrado por Rodrigo Santoro que fica rolando na caixa de som e fala sobre a cultura desse povoado do sertão brasileiro.

Imagens da exposição ” A Gente Transforma” na Bienal na última edição da SPFW. Crédito: Fotosite

Agora, Rosenbaum mergulha de cabeça no MHS e participa do scouting de Vitória que acontece amanhã, às 19 horas, no Parque Botânico Vale, área de reserva natural do Grupo Vale do Rio Doce – patrocinador do projeto. Antes, ele respondeu as seguintes perguntas do MH

MHS: Como avalia a exposição do projeto “A Gente Transforma” na SPFW? O retorno em termos de imagem foi significativo? E em termos financeiros?

Marcelo Rosenbaum: Sem dúvida o projeto ganhou uma nova dimensão com a edição da SPFW. A história causou impacto nas pessoas mais antenadas em questões sociais e acreditamos que a grande colaboração da imprensa na divulgação dessa história expandiu algumas possibilidades. Mas tudo ainda é muito novo e seria antecipado fazer uma avaliação dos benefícios inclusive financeiros que essa repercussão trará para o projeto. Ainda estamos procurando patrocinadores, mas com certeza o evento agregou um valor gigante à marca do AGT.

MHS: Como foi essa troca do mundo da moda “profissional” ( estabelecido nas grandes cidades) com o talento genuíno dos artistas de Várzea Queimada?

Marcelo Rosenbaum: Foi muito importante trazer um pouco desse Brasil profundo para o universo urbano, que atinge bem mais do que o público fashion. Os produtos foram muito bem aceitos.  Acho que o mercado está mais atento a esse consumo consciente, de valor cultural e de memória. São valores resgatados que fazem desse, um modelo de negócio sustentável, um design social que tem como foco o desenvolvimento dessas comunidades e do povo brasileiro, uma troca necessária para o entendimento da nossa sociedade.

MHS: Quais são agora os próximos passos do projeto AGT? A exposição que esteve em São Paulo vai percorrer outras capitais. Quais?

Marcelo Rosenbaum: Bom, primeiro precisamos sistematizar essa experiência vivida em Várzea para multiplicá-la nos futuros projetos que já estão sendo pensados. O principal desafio agora é encontrar um apoiador nacional que fundamente essa nova fase, queremos fortalecer a cadeia produtiva desse artesanato, firmar o movimento com a comunidade pra que eles possam continuar o trabalho. Estamos participando de duas feiras de negócios importantes em São Paulo, em agosto e fomos convidados pela DROOG, uma das mais importantes marcas de design do mundo, para fazer uma exposição em Amsterdam em setembro. Muita coisa rolando, e como editor convidado da próxima edição da revista MAG, vou junto com Paulo Borges fazer um fashion tour em várias capitais do Brasil e explorar o tema sobre soluções de desenvolvimento, inspirar e provocar as pessoas com informações que vão além da moda.

Paulo Borges e Marcelo Rosenbaum vão percorrer o Brasil em busca de novos talanetos. Crédito: Fotosite/ Coletiva SPFW

 

MHS: Você voltou a Varzea Queimada depois do SPFW? Teve alguma mudança no dia-a-dia das pessoas ?

Marcelo Rosenbaum: Eu pessoalmente ainda não voltei, mas uma equipe tem voltado quinzenalmente à Várzea e temos mantido um contato próximo com a comunidade. As mudanças na rotina deles começaram desde o primeiro movimento, eles ocuparam de forma efetiva o centro comunitário, construído durante o projeto com os estudantes de arquitetura de todo o País, junto com a comunidade e coordenado pelos arquitetos permacultores Henrique Pinheiro e Tomas Lotufo. Eles estão trabalhando sem parar, desde então, com a demanda de produtos. O dia-a-dia tem sido muito produtivo e cheio de esperança. Um grande motivo de orgulho pra esse povo tão esquecido mas que agora se encontra cheio de otimismo.

MHS: Na realização do projeto, durante as duas semanas que esteve no Piaui, como foi a participação dos jovens locais? Eles conseguem perceber o valor dos “saberes” dos mais velhos?

Marcelo Rosenbaum: Infelizmente, ainda há uma certa rejeição dessa cultura do artesanato pelos jovens. Eles estão de olho no futuro e alimentam o sonho de tentar a vida em lugares como São Paulo. Esperamos que essa valorização da cultura de raiz e das comunidades envolvidas nesses projetos possa mudar isso no futuro e que mais jovens possam se orgulhar de suas origens e continuar as tradições.

MHS: O termo “economia criativa” já faz parte desta comunidade ou ainda é usado no eixo Rio/SP?

Marcelo Rosenbaum: Acredito que o termo em si ainda é pouco usado mesmo no eixo Rio-SP. Mas, projetos como esse são um puro e literal exemplo desse conceito que está chegando em lugares como o sertão do Piauí. O Brasil oferece grandes possibilidades para esse tipo de economia.

MHS: Como os participantes do Movimento HotSpot podem se inspirar em projetos como esse? Ao ver a projeção dada, pode ser ter a falsa impressão de um alto valor investido e o fato de ter sido feito por um profissional renomado. Mas, é possível fazer algo semelhante sem esses “recursos”?

Marcelo Rosenbaum: Na verdade o formato desse projeto tem um custo alto sim. A dimensão alcançada também tem a ver com essa posição de reconhecimento conquistada ao longo da minha carreira. Ainda sim, estamos desbravando essa iniciativa e não tem sido fácil, tudo que sai da nossa zona de conforto requer muito trabalho e dedicação, mas estamos pagando pra ver. De qualquer forma, esse conceito pode ser aplicado em várias escalas que não demandem altos orçamentos. A criatividade e o trabalho coletivo são os maiores inspiradores e responsáveis para o sucesso de projetos como esse.

MHS: O que um jovem deve fazer para conhecer, aprender, se inspirar para seguir a carreira de arquitetura e acabar criando projetos como o seu?

Marcelo Rosenbaum: O olhar do jovem para o futuro e para sociedade é o principal agente transformador. A arquitetura e o design são dependentes desse entendimento. Claro, que além do olhar, é necessário se engajar e fazer com que projetos de transformações façam parte de suas rotinas profissionais desde cedo.

MHS: O que pretende levar para scouting? Histórias tão emocionantes com do Cabelo q vc apresentou no SPFW?  (Cabelo era o o chefe do tráfico da favela do Parque Santo Ântonio que depois do projeto que coloriu as casas no entorno do campo de futebol, fundou uma biblioteca e deu vida nova à comunidade, abandou a vida de crime e se tornou uma funcionário da Casa do Zezinho, ONG que funciona no local. Hoje, Geovani, seu nome verdadeiro se tornou uma celebridade local do lado do “bem”)

Marcelo Rosenbaum:  Sim, histórias como a do Cabelo são resultados desse processo criativo que dizem muito sobre o AGT e farão parte da minha discussão e contribuição para esses encontros.

MHS: O que espera encontrar nas cidades q vai visitar com o MHS?

Marcelo Rosenbaum:  Eu espero encontrar pessoas de ouvidos e coração abertos pra discutir esse tema. Pessoas com interesse pelo desenvolvimento.

 

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