Museu Vale abre exposição de Paulo Mendes da Rocha

Paulo Mendes da Rocha retorna à Vitória para a maior exposição de suas obras. Crédito: Ana Ottoni

Paulo Mendes da Rocha nasceu em Vitória. Foi lá, observando a integração da cidade com o mar, o porto, seus edifícios que trouxe a sua memória afetiva para a escolha e o sucesso da profissão de arquiteto. E é lá que acontece a maior exposição sobre suas obras, “Paulo Mendes da Rocha: a natureza como projeto”, a partir desta sexta-feira, no Museu Vale.

Serão vinte trabalhos expostos por meio de maquetes, projetos, fotos e filmes, contemplando obras feitas aqui no Brasil como Cais das Artes (Vitória-ES), Pinacoteca do Estado (São Paulo-SP), Aquário de Santos (Santos-SP) e outras ao redor do mundo como a Baía de Montevidéu, no Uruguai, o Pavilhão do Brasil em Osaka, Japão e o  Museu dos Coches, em Lisboa, Portugal.

Maquete do Cais das Artes que está sendo construído em Vitória. Crédito: Agência Vale

Na primeira sala do Museu Vale, será exibido o depoimento de Paulo Mendes da Rocha sobre a vocação territorial da arquitetura, incluindo-se aí os rios e os sistemas de transporte, focado justamente a relação entre o território e as águas, ilustrado com ricas imagens.  No pavilhão maior, o visitante percorrerá painéis flutuantes com desenhos de vários projetos do arquiteto, presos por cabos de aço às tesouras de madeira da estrutura do telhado.

As maquetes de chão e as maquetes elevadas, de grandes dimensões, entremeiam os painéis.  O percurso é, ao mesmo tempo, registro e história. Cada obra tem muito do seu tempo – e o conjunto provocará uma viagem do espectador pela relação das obras de Paulo Mendes da Rocha com a época em que foram concebidas e realizadas. A última etapa da “viagem” é um segundo filme, exibido na parede que encerra o pavilhão de exposições do museu: uma câmera percorre algumas dos trabalhos notáveis do arquiteto, conectando tempo, percurso e obra.

Para Ronaldo Barbosa, diretor do Museu Vale, a retrospectiva de Paulo Mendes da Rocha busca mostrar “sua visão particular de mundo e da arquitetura”.   A curadoria da exposição é de responsabilidade do crítico e arquiteto paulista Guilherme Wisnik, ex-aluno e ex-colaborador.  “Vitória é a cidade do Paulo, portanto a exposição transita um pouco por suas memórias desse território”,  pontua o curador Guilherme Wisnik.  “Filho de um engenheiro de portos e navegações, Paulo cresceu sob a influência da presença das águas e sempre admirando a imagem do porto na cidade. E o Museu Vale é o lugar perfeito para se falar dessa integração entre natureza e construção, por ser um enorme espaço cujas janelas se abrem para o porto”, entusiasma-se.

Em entrevista ao jornal O Globo, o consagrado arquiteto revela a sua relação com a sua cidade Natal. Ele diz: “Sempre tive muito cuidado com o lugar, principalmente no que diz respeito à construção e à geografia. E Vitória mostra-se muito favorável a isso, com o mar que a cerca, como o Rio. Minha obra não foi feita lá, mas sempre achei importante considerar esse estilo de cidade em que a natureza está presente não só como paisagem, mas como um conjunto de fenômenos muito enérgico, às vezes agressivos. Porque a cidade é feita para que possamos viver. ”

Todo o galpão do Museu Vale será tomado por 20 obras do arquiteto capixaba. Crédito: Agência Vale

Paulo Mendes da Rocha é um dos dois únicos arquitetos brasileiros a ser agraciado com o cobiçado Prêmio Pritzker – que, na arquitetura, equivale a um Nobel. Até hoje, somente ele e Oscar Niemeyer mereceram a honraria. Duas pequenas observações do júri do prêmio, recebido em 2006, dão uma medida da importância de sua obra, em termos da arquitetura mundial: seu “profundo entendimento da poética do espaço” e “a prática de uma arquitetura de profundo engajamento social”.

Este, com certeza, é o prêmio mais importante, porém, não é o único. Ele recebeu também Prêmio Mies van der Rohe 2000, pela restauração do edifício da Pinacoteca do Estado de São Paulo. No mesmo ano,  foi selecionado para representar o Brasil na Bienal de Veneza e tabém se tornou Membro Honorário da Associação de Arquitetos Profissionais de Lisboa; entre outros prêmios e reconhecimentos internacionais.

Sua carreira ganhou impulso logo após a formatura, em 195, pela Faculdade Mackenzie, em São Paulo. Mendes da Rocha ganhou o concurso nacional para a construção da sede esportiva do Clube Atlético Paulistano, em São Paulo. Em 1975, foi finalista do concurso internacional para  a construção do edifício do Centro Georges Pompidou, em Paris; e em 2000 foi convidado para criar o projeto do complexo aquático para a candidatura de Paris à sede dos Jogos Olímpicos de 2008.

Mesmo com a atividade empresarial a todo o vapor, ele se dedicou com entusiamo a vida acadêmica sendo professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo desde a década de 1960, onde ingressou a convite de seu amigo e arquiteto Vilanova Artigas. Teve um período de afastamento, quando foi forçado a renunciar ao seu cargo de professor em 1969, após ser cassado pela ditadura militar. Somente em 1980, após a anistia, obteve permissão para retornar à Faculdade, onde ensinou até se aposentar, em 1999.

Dentre seus trabalhos mais recentes estão o desenvolvimento do Campus Lagoas-Marcosende da Universidade de Vigo, na Galícia, e os dormitórios estudantis da Universidade de Cagliari, na Itália, além do Novo Museu dos Coches, em Lisboa, e do projeto para o Cais das Artes, espaço cultural que reúne um teatro e um museu, atualmente em construção na cidade de Vitória, Espírito Santo.

 

Serviço

Paulo Mendes da Rocha: a natureza como projeto

Retrospectiva da obra do arquiteto Paulo Mendes da Rocha

Museu Vale

Antiga Estação Pedro Nolasco, s/nº – Argolas. Vila Velha/ES

Telefone: 55 (27) 3333-2484

Período: de 26 de outubro 2012 a17 de fevereiro 2013

Horários: De terça a sexta das 8h às 17h – Sábados e domingos das 10h às 18h

 

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