Projeto Symbiosis

Um olhar, um rosto, um corpo. Projetados em árvores que abrigam, aninham, se moldam a imagem, unindo a natureza e a arte. Esta é a base do projeto “Symbiosis” que a artista Roberta Carvalho apresenta nesta sexta e sábado, no Festival Movimento HotSpot, em Belém.

Desde 2008, ela vem projetando imagens nas copas das árvores amazônicas e do mundo afora em um misto de intervenção urbana, fotografia, vídeo mappping e instalação. O interessante é que artista faz um estudo morfológico do local da projeção e depois adequa as imagens para formar um só organismo.

Artista, designer e produtora cultural, Roberta Carvalho estudou artes visuais na Universidade Federal do Pará, em Belém, cidade onde nasceu e vive.  Recebeu diversos prêmios, entre eles o do Prêmio Microprojetos (2010) da Funarte (Minc) que levou o projeto “Symbiosis” para ribeirinhos na Amazônia. Seus trabalhos integram acervos como o do Museu de Arte Contemporânea Casa das Onze Janelas e Museu da Universidade Federal do Pará. Recentemente expôs em Barcelona com Terra Prometida, Casa América Catalunya, em 2012

Antes da projeção de hoje, ela falou sobre seu trabalho para o blog do Movimento HotSpot:

MHS: Em que você se inspirou para criar o projeto Symbiosis?

Roberta Carvalho: Sempre foi inquietante para mim a nossa relação com o que entendemos por natureza. Esses seres que nos rodeiam, cujo nosso olhar viciado, muitas vez os ignora e o destrói. Desde que iniciei meus trabalhos e pesquisas em artes visuais, lá pelos idos de 2002, queria fazer algo sobre isso… mas ainda não tinha materializado nada até então. Nos anos seguintes comecei a pesquisar a questão da imagem projetada, intervenções urbanas com o uso de projetores, geralmente em prédios abandonados da cidade de Belém, mas foi em 2007, a convite do Colóquio de Fotografia e Imagem da Fotoativa, por Mariano Klautau, que me deparei com uma grande limitação de espaço para fazer um trabalho com projeção. Não haviam paredes, prédios, etc, e sim uma imensa árvore na minha frente. Resolvi experimentar. A primeira imagem era um homem, em posição fetal, aninhado na natureza. Renascendo. A primeira projeção foi esta. O projeto nem tinha esse nome, aos poucos fui experimentando e amadurecendo.

MHS: Como é esta relação arte e natureza?

Roberta Carvalho: A proposta do projeto é fazer uma simbiose mesmo, entre arte e natureza, tanto pela forma como pelo conteúdo. As árvores escolhidas correspondem a formas de rosto, partes do corpo. As estruturas internas do corpo ora se confundem com galhos que parecem ossos. A tridimensionalidade das árvores comungam com a tridimensionalidade do corpo. Fora que na maioria das vezes, o projeto convida pessoas do entorno a fazerem parte, tornando-se as árvores, fazendo com isso uma relação mais estreita e significativa para o trabalho e para as pessoas.

MHS: Como são as apresentações deste trabalho em Belém?

Roberta Carvalho: Como expliquei acima, esse trabalho foi apresentado em Belém, no seu nascimento, como a primeira projeção intitulada, “Renascer”, depois fiquei alguns anos em laboratório com o projeto, testando possibilidades, até que em 2011 no aniversário de Belém, o apresentei novamente e também, em 2011, quando ganhei o prêmio Diário Contemporâneo com uma série de fotografias e intervenções do projeto.

MHS: Como foi a projeção de Symbiosis para a população ribeirinha no Microprojetos?

Roberta Carvalho: Foi uma experiência maravilhosa de troca e exploração de possibilidades artísticas a partir da relação com pessoas. Digo que é um estética que surge pelo relacionamento, não a mera projeção em árvores, proposta que tenho conhecimento que outros artistas no mundo passaram a explorar desde os anos 2000. Acho que a principal marca do projeto Symbiosis está nesse relacionamento. Na ilha do Combú, fiz mais que as projeções, me propus a uma vivência com eles, ministrei oficinas sobre percepção visual, e no fundo, eu fui a que mais aprendi. O olhar deles sobre a natureza é bem diferenciado do meu, de sujeito da cidade. Foi enriquecedor. E de lá, trouxe uma imagem fortíssima, da Dona Mundica, ribeirinha, matriarca de uma família imensa no Combú, cujo olhar é o olhar da Amazônia observando  o mundo, sem pieguismo ou exotismo. O olhar de uma mulher forte, que já levei para vários lugares, para o festival Paraty em Foco, para Barcelona e assim vai. O olhar carrega tanta força e aprendizado, que acho sinceramente, que todo mundo merece essa mirada.

O olhar de dona Mundica, moradora da ilha Combú. Crédito: Michel Pinho

MHS:  O que acha do Movimento HotSpot?

Roberta Carvalho: Antes de conhecer o movimento, entrei no site e a primeira palavra que me veio foi inovação. Agregar tantas áreas de forma orgânica e interessante é um desafio e creio que o melhor caminho para exaltar e compreender a nossa diversidade cultural. Estou muito feliz em fazer parte do MHS em Belém.

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